NO CAMINHO DA EVOLUÇÃO
Lá, no início da década de 80, quando freqüentei o curso de formação de soldados, recebi as primeiras instruções da minha profissão. O conteúdo transmitido quase sempre traduzia aquele momento histórico, conhecido na literatura como “ANOS DE CHUMBO”.
Um dia, lembro como se fosse hoje, fui escalado para participar do policiamento do pleito eleitoral no município de Lagarto. Ainda na condição de aluno de soldados cheguei à referida cidade. Fui apresentado na delegacia local, a qual era administrada por policiais militares. Os recrutas que saíram de Aracaju foram recebidos por policiais antigos e, logo no primeiro dia, um fato me chamou atenção naquela minha primeira experiência operacional:
- Era fim de tarde e de repente um camburão chegou à delegacia conduzindo no xadrez da viatura um cidadão preso.
- Os policiais militares responsáveis pela prisão afirmavam que aquele preso estava fazendo arruaça no mercado da cidade.
- Detalhe, aparentemente o cidadão preso se tratava de um vulnerável social.
Vi quando o preso fora colocado no xadrez da delegacia, logo a seguir formou-se uma longa fila. Policiais antigos e recrutas disputavam espaço! Para minha surpresa um graduado puxou um grande pedaço de madeira, que eles chamavam de “PALMATÓRIA”.
Este instrumento passava de mão em mão por todos policiais, antigos e recrutas, que utilizara para castigar fisicamente o dito arruaceiro.
Fiquei por último. Não quis participar daquela sessão lamentável. Corri o risco de ser discriminado pelo grupo. O recruta tinha apenas que obedecer.
- Contudo, mantive a postura.
- Resisti!
Voltei ao centro de formação para concluir o curso. Passaram-se seis meses. Recebi muitas informações, uma boa parte inútil. Chegou o dia da formatura. Era 12 de dezembro de 1982.
A família presente. Passei a noite anterior em claro. Engraxava coturnos, testava o uniforme. Ia várias vezes ao espelho.
- Era a minha realização.
- Uma grande expectativa!
No dia seguinte, orgulhoso me apresentei no quartel do comando-geral. Estava pronto para o exercício de minha profissão:
- Uniforme impecável;
- Ansiedade;
- Medo!
Hoje, décadas depois, percebo que a atitude rebelde daquele recruta era a demonstração de que pessoas são importantes no processo de transformação do ambiente, na quebra da cultura velha e no estabelecimento de novos paradigmas, não se admitindo mais ensinamentos do tipo:
- Militar é superior ao tempo.
- Soldado não pensa.
- Soldado só obedece!
A sociedade exige novos olhares. A vida é dinâmica e o homem deve assumir atitude pro-ativa no processo de evolução material, espiritual e psicossocial, como já nos ensinava Francisco Otaviano:
“Quem passou pela vida em brancas nuvens e em plácido repouso adormeceu, quem nunca sentiu o frio da desgraça, quem passou pela vida e não sofreu. Foi espectro de homem, só passou pela vida, não viveu”.
Prossiga sempre!
O tempo não pára.
JOSÉ PERICLES MENEZES DE OLIVEIRA
GESTOR

