Merecimento meritocrático

24-01-2011 10:57

 

“Antiguidade é posto, temos que respeitar”
O verso acima tem seu fundo de verdade, não há como negar, sendo levado em consideração nas empresas privadas, no serviço público e, obviamente, mais ainda, nas instituições militares. Mas até que ponto justifica-se moralmente a observância de tal premissa?
Inegavelmente, trata-se de um critério histórico, tradicional e devidamente fundamentado, o que não o torna imune a questionamentos e revisões. Afinal, só existe esse critério para definir quem será o contemplado na disputa por alguma benesse? Não…

Sabe-se que atualmente falar em merecimento dá margem a desconfiança, o que não significa que ele deva ser desconsiderado. Deixando de lado questões de promoção e ascensão hierárquica, pensemos em situações rotineiras, seja no campo operacional ou administrativo. É justo, ano após ano, sempre conceder o privilégio da escolha do mês de férias ao mais antigo no mesmo posto, ainda que ele não esteja alcançando as metas, cumprindo com as obrigações? Há moralidade em sempre escalar nos locais desejados ou funções vantajosas o mais antigo, mesmo que um mais moderno comprovasse eficácia superior no desempenho da atividade? Há dúvidas.
A supremacia do interesse público, junto a outros princípios do direito administrativo, busca superar intenções de vantagem pessoal em prol do benefício da coletividade. Há maneiras de remanejar um efetivo, por exemplo, sem ferir a disciplina e hierarquia, elevando a qualidade do serviço prestado. Vejamos: pense em um serviço de carnaval, onde um sargento mais antigo comanda patrulha com desânimo e apatia, tendo entre os comandados um sargento mais moderno que evidencia melhor disposição para a atividade. O que impossibilitaria conceder ao mais moderno o comando da patrulha, obviamente remanejando para outra patrulha o graduado que sabidamente não iria cumprir bem a missão?
Se ao longo de um ano, determinado soldado “novo” demonstra bom condicionamento físico, conhecimento, capacitação, disciplina, entre outras virtudes elogiosas, em contraste com uma série de falhas e transgressões cometidas pelo “antigão”; ainda assim deve o primeiro “pagar” por ter ingressado posteriormente, ficando sempre em último plano na disputa por qualquer benefício? Cabe uma reflexão.
A bem da moralidade, de modo algum deveriam ser consideradas vinculações político-partidárias, nem descendência ou parentesco com quem quer que seja; o objetivo é proceder com lisura, praticando justiça em premiar os certos e tentar corrigir os errados, estimulando a produtividade. É de pouca sensatez a ideia de explorar o potencial do que é novo até o esgotamento, sem a devida contrapartida, ao tempo em que são premiados outros que não fizeram nada além de “ter chegado antes”.