"CORONEL IUNES E O 1º DE ABRIL: O DIA EM QUE FOMOS ENGANADOS".

10/04/2010 23:40

 

A senhora Sandra Regina da Cunha D’elia resolveu pregar-nos uma peça e tanto. Espirituosa, a dita senhora, que vem a ser irmã consangüínea do bravo coronel Maurício da Cunha Iunes, aproveitou o último 1º de abril para contar a maior mentira do ano: acusar o próprio irmão de tentar extorqui-la por meio de violência exercida com o emprego de arma de fogo.

Inteligente e bem-humorada – ela sabia que muitos de nós ainda estávamos sob o efeito do vinho fartamente consumido por ocasião da Semana Santa -, Sandra induziu-nos a acreditar que fora espancada covardemente pelo irmão para que assinasse documentos transferindo as cotas de uma empresa de segurança privada para ele. Quanta criatividade!

Revelando assombrosa sagacidade e uma dose de humor negro digna de um Quentin Tarantino, a nossa Pantaleão de saias (ou seria Pantaleoa?) deu a entender que também é laranja de uma empresa cujos donos verdadeiros são Iunes e sua esposa Alique Costaque, cuja relação conjugal está por um fio, razão pela qual o nosso operoso oficial precipitou-se em transferir para si (?), à base de socos, pontapés e arma e arma de fogo enfiada por entre os dentes de outrem, o controle das cotas da empresa. Não me lembro desse tipo de procedimento, mas, vá lá, eu também nunca dei muita importância às aulas de Direto Comercial.

Como somos tolos e ingênuos! Como somos estúpidos! Basta uma mulher se dirigir a uma delegacia plantonista às 04h:50min, acusar seu próprio irmão de tê-la espancado e colocado uma arma de fogo em sua boca, e nós vamos logo acreditando, sem sequer nos darmos conta de que o fato narrado ocorreu exatamente no Dia da Mentira.

Ufa! Que alívio... Já pensou se tudo isso fosse verdade? Já pensou se o mesmo oficial que recentemente foi afastado do Comando do Policiamento Militar da Capital – CPMC – (ao qual retornou inexplicavelmente) sob a acusação de ter espancado um jovem indefeso tivesse efetivamente seviciado sua querida irmã utilizando-se do mesmo modus operandi?

Felizmente, Maurício Iunes esclareceu hoje pela manhã num programa radiofônico que tudo não passou de uma “mentira”, ou seja, uma brincadeira de sua mui sapeca irmã “leviana”, ressaltando que o fato se reduz a um “problema de família” (logo, ninguém está autorizado a meter o bedelho). Assim, não há o que temer, pois tudo o que aconteceu já está previamente esclarecido na letra daquela musiquinha infame com que Xuxa nos martelava os tímpanos e que diz assim: “Enganei o bobo/Na casca do ovo/Quem caiu, caiu, caiu/ Primeiro de Abril”.

Ocorre que nem a Polícia, nem o Ministério Público, nem a OAB e muito menos o Poder Judiciário compactuam com esse tipo de atitude, pois a ninguém é lícito movimentar o aparato estatal para contar, por assim dizer, mentiras desse naipe, com detalhes tão estarrecedores. E como bem ressaltou o jornalista Joedson Telles aqui no Universopolitico, o crime imputado a Maurício Iunes (extorsão), é de ação pública incondicionada, de maneira que tanto a Polícia Civil quanto o MP prescindem de autorização da vítima para deflagrar a persecução penal.

Mas, como mentira tem pernas curtas, das duas uma: ou Maurício Iunes é processado por extorsão majorada em razão do emprego de arma de fogo, ou sua levada e bem-humorada irmã Sandra Regina será processada por “denunciação caluniosa”, outro crime bastante grave previsto no Código Penal.

Seja como for, uma coisa é certa: ficou insustentável a permanência de Maurício Iunes à frente do CPMC depois desse episódio. A bem da verdade, ele não deveria ter retornado ao comando do órgão após o acordo feito com o jovem que o acusou de outros crimes no ano passado. Tudo bem, todos nós cometemos erros, não é mesmo? O problema está em quem nos trai a confiança, e Iunes, tudo leva a crer, traiu a confiança tanto do Secretário de Segurança quanto do governador do Estado.

A quem interessar possa, não pretendo, com esse meu juízo, atacar meu colega e atual Secretário de Segurança, Dr. João Eloy de Menezes, cujas liderança e capacidade técnica são, para mim, indiscutíveis; também desejo alfinetar nem por na berlinda o governador Marcelo Déda, que não dispõe de mecanismos para sondar o psiquismo de seus subordinados nem prever ações e atitudes desastrosas e tresloucadas, quando não criminosas.

Acredito, tão-somente, que não só por esse fato, mas sobretudo pelo conjunto da obra, Maurício Iunes já deu provas mais do que suficientes de que não possui o equilíbrio necessário para permanecer à frente de tão importante cargo. Ademais, tenho plena convicção de que, nesse particular, não sou voz isolada.

O governo merece o aplauso pelas ações acertadas que vem promovendo na Segurança Pública, inclusive em questões administrativas que envolvem servidores, como o ato que pôs na reserva, no mês passado, quatro oficiais que já contavam com mais de 30 anos de serviço, em conformidade com a legislação estadual que rege a corporação.

Da mesma maneira, a sociedade entenderá e apoiará o governo quando do necessário e inadiável afastamento do coronel Maurício Iunes, a fim de que se possa, com isenção e imparcialidade, dar início à cabal apuração de todos os fatos. Afinal de contas, estão em jogo não só a segurança da sociedade, mas a honra, a dignidade e a própria imagem da Polícia Militar do Estado de Sergipe.

Paulo Márcio é delegado de Polícia Civil